Como é que a gente se sente quando as palavras se tornam verdadeiras? Quando as teorias se tornam experiências? Quando os lugares-comuns se tornam tangíveis? Eu tenho pensado nisto ultimamente, porque em algum momento ele realmente começa a acontecer.

Há algumas semanas eu tive esta experiência, que, em retrospecto, foi bem divertida assim como iluminadora. Ainda posso sentir o seu efeito.

Eu estava fazendo compras na cidade e a última parada foi na mercearia.  Eu estava empurrando o carrinho pelos corredores familiares, pegando algumas coisas e riscando-as da minha lista e num momento eu fui ao toalete. Na verdade, não tinha muito em minha mente, mas conforme eu passei pela porta alguma coisa subitamente veio para a minha consciência.

Durante uma conversa mais cedo naquele dia, uma amiga me disse: “Eu sei que você escolheu iluminação incorporada”. Isso não era novidade. Eu sei disso há muito tempo. Mas quando eu me lembrei das palavras naquele momento, alguma coisa aconteceu.  As implicações de: “é nesta vida e, sim, eu escolhi isto”, subitamente se tornaram muito, muito reais.

A sala começou a balançar e eu estava muito agradecida por ter um lugar (um pouco estranho) para me sentar e recuperar a minha respiração. Estava contente por estar sozinha por alguns minutos e a aguda percepção encheu a minha consciência: “É uma conclusão precipitada. Eu vivenciarei a minha iluminação nesta vida. Eu SEI disso em cada célula do meu ser. Eu não posso mais ‘errar’, não há nada mais para descobrir e nada para provar – para mim ou qualquer outra pessoa. Deste momento em diante, a vida é tudo o que eu fizer dela.”

Eu senti tudo isso num instante e ondas de arrepio passaram por mim. Eu fechei meus olhos e respirei fundo, tentando ficar presente com alguma coisa bem maior do que a minha realidade imediata. Certo,  Adamus nos disse isso tudo muitas vezes, mas eu nunca senti tão profundamente e de maneira tão verdadeira. Até mesmo agora enquanto eu tento descrever isso, as palavras quase que soam banais. É como se elas só pudessem remendar uma estrutura superficial em torno de algo que elas nunca poderão conter.

Eventualmente eu percebi que não queria passar o resto do dia no toalete, eu me preparei para o mundo. Sair da mercearia cheia de pessoas ocupadas foi um pouco esmagador, assim eu fiquei olhando para baixo e concentrada no meu carrinho de compras, o qual me conectou com o chão.  Numa mercearia, as pessoas geralmente estão focadas em fazer as suas compras, mas a coisa estranha foi que, cada vez que eu olhava para cima alguém estava sorrindo diretamente para mim! O que... eu estou com o cabelo verde ou algo assim?

No balcão dos pães eu apontei para um filão e a senhora disse: “Você quer fatiado?” Eu balancei a minha cabeça e murmurei alguma coisa, olhando para o espaço. Ela parou... “Hum, isso foi um sim? Oops. Volte para a terra, Jean, volte para a terra.

Finalmente eu consegui passar pelo caixa e fui para o carro. Coloquei as coisas lá dentro, entrei e fiquei sentada lá por uns bons 15 minutos. Nada mais era importante. Nada mais era tão interessante quanto respirar nesta experiência que estava além das palavras.

O que tinha acabado de acontecer? Não havia muito que eu poderia definir e as poucas palavras que vieram pareciam muito familiares. “Eu posso vivenciar a minha iluminação de qualquer maneira que eu escolher”.  Eu já sabia disso, mas aparentemente isso tinha sido somente um conceito. De alguma maneira, naquele estranho momento no toalete feminino, ela se tornou muito, muito verdadeira. Não há mais nada que eu tenha que fazer. De fato, não importa mais o que eu faça, porque eu estou no final da jornada. Agora tudo o que resta é explorar este destino que eu lutei tanto para alcançar.

Cada um de nós vivenciará estes momentos de compreensão de nossa própria maneira, em nossa própria hora.  Eu sei que haverá muitos mais para mim – momentos quando as palavras se tornam realidade, quando os conceitos se tornam experiências – e, honestamente, eu estou contente que eles sejam apenas momentos! Tanto quanto eu quero a minha plena iluminação 'agora', eu também estou feliz por minha alma estar fazendo isso devagar.  Estes momentos de despertar são tão preciosos (sem mencionar intensos) e eu quero vivenciá-los completamente, sem me incinerar durante o processo. É como saborear um primeiro beijo, que é cheio de promessas, em vez de entrar de cabeça no nirvana; é como saborear cada nuança da mais fina sobremesa, em vez de engoli-la em duas mordidas.  

A vida muda na iluminação? Na verdade não..., mas, sim, completamente. Quanto mais próxima dela eu fico, mais introspectiva eu me torno, querendo ficar mais sozinha e bem menos compulsiva que já fui. Eu faço o que eu gosto, aproveito o tempo com aqueles que eu amo e recebo as dádivas de cada momento, tanto os dados com lágrimas quanto os com risos. A vida cotidiana na terra continua e eu sinto isso até mesmo após a respiração final da reunião completa e provavelmente vai continuar assim. Como diz o ditado: “Antes da iluminação – corte madeira e carregue água. Depois da iluminação – corte madeira e carregue água”, mas mesmo assim a vida passa a ter uma qualidade diferente.

Caros Shaumbra, confiem no processo. Confiem nos momentos, pois eles são quase sempre inesperados. Entreguem-se a eles completamente, na experiência e amor totais por si mesmos, não importa o que eles sejam.  Confiem no andamento, porque trazer o céu para a terra é um processo delicado, que nunca foi feito antes. E aproveitem as simplicidades e dores da vida, pois elas são preciosas além das palavras.
 

 Tradução: Léa Amaral    lea_mga2007@yahoo.com.br